segunda-feira, 15 de julho de 2013

Charles Dickens - O escritor dos bons sentimentos


Muitos críticos consideram os livros de Dickens piegas e cafonas e eu concordo com eles, mas é justamente esse ''defeito'' que me faz amar suas obras, que é sua marca registrada, que o diferencia e ora querer que seus livros fossem menos sentimentais é o mesmo que querer que os livros de Machado de Assis sejam menos irônicos, ou então querer que as poesias de Florbela Espanca fossem menos melancólicas, mas são justamente esses pequenos ''defeitos'' que nos fazem amar um artista. Agora escreverei sobre algumas características das obras de Dickens que eu mais admiro.

A beleza de sua escrita

Existem muitos escritores cuja maneira de escrever eu considero de difícil digestão, intragáveis, não é o caso de Dickens, suas palavras são leves e agradáveis, ler Dickens não é um exercício, é um prazer.

Bom-humor

Por mais triste que fosse a história Dickens sempre encontrava uma maneira de torna-las mais agradável, ele conseguia enxergar o humor onde poucos podiam ver.

Engajamento social

A infância de Dickens foi marcado pela pobreza e muito trabalho, mas quando adulto estava no topo da hierarquia social, e um dos motivos dessa mudança era que a Inglaterra era a grande potência mundial de sua época. Em tese Charles Dickens só tinha que louvar aos céus por ter nascido na Inglaterra e escrever histórias engraçadas e românticas, mostrar os aspectos mais glamurosos de seu pais para entreter a elite burguesa da qual ele fazia parte, mas Charles Dickens mostrou que era capaz de olhar além do próprio umbigo. Em um dos seus primeiros livros, Oliver Twist, mostrou a condição miserável em que viviam os órfãos e o esnobismo social da elite inglesa. Em David Copperfield o protagonista, mesmo sendo uma criança se vê obrigado a trabalhar arduamente em condições precárias. È verdade que ele evitava fazer uma crítica mais politizada e preferia focar nos sentimentos de seus protagonistas, fator determinante para sua obra ter se tornado popular, também por isso no século XX Dickens foi bastante criticado pelos movimentos de ''esquerda'', pobres revolucionários! Sem sensibilidade, cujos corações foram endurecidos pela razão e que amavam seus ideais mais do que seu povo. Não perceberam que as criticas do protestante burguês ao capitalismo eram mais severas do que as de Marx e Engels, esses apelavam para a razão enquanto as palavras de Dickens visavam o coração, Marx e Engels mostravam os abusos dos poderosos enquanto Dickens através dos seus personagens dava voz as pessoas que sofriam com isso.

Sensibilidade

De todas as características de Dickens essa provavelmente seja a que eu mais admire. Ele era um profundo conhecedor da alma humana e sabia como emocionar seus leitores. David Copperfield é um dos livros mais marcantes da minha vida, poucos me fizeram chorar, esse foi um deles e Um Conto de Natal me deu um tremendo nó na garganta e sempre que leio-o novamente sempre tenho essa sensação.

Mas para mostrar o talento de Dickens minhas palavras não bastam e então serão com as palavras dele que encerrarei esse post, um prefácio de Oliver Twist em que ele fala sobre as criticas feitas a obra.

''Pareceu circunstância chocante e grosseria que algumas das personagens destas páginas tenham sido escolhidos dentre as mais criminosas e degeneradas da população de Londres; que Sikes seja ladrão e Fagin, um receptador de artigos roubados; que os meninos sejam batedores de carteira e a menina, prostituta. Ainda estou para aprender que do mal mais ignóbil não se possa extrair uma lição do mais puro bem. Sempre acreditei que esta fosse uma verdade estabelecida e reconhecida, formulada pelos maiores homens que o mundo já viu. Há pessoas de natureza tão delicada e refinada, que não suportam a comtemplação de tais horrores. Não tenho fé em tal delicadeza. Não tenho o desejo de fazer prosélitos entre tais pessoas. Não tenho respeito por sua opinião, boa ou má; não ambicionei sua aprovação; e não a escrevi para seu divertimento. Ouso dizer isso sem reserva; pois não tenho conhecimento de nenhum escritor na nossa língua, que respeite a si próprio ou que seja respeitado pela sua posteridade, que tenha jamais descido ao gosto dessa classe fastidiosa

P.S: Há muitos poucos livros de Dickens nas livrarias, a maioria eu encontrei em sebos, edições antigas, francamente é uma vergonha que nossas editoras não lancem novas edições dos principais livros de um escritor como Dickens!

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