segunda-feira, 15 de julho de 2013

Crepúsculo dos Deuses - Uma das maiores críticas feitas a Hollywood


O maior elogio que pode ser feito a Billy Wilder em Crepúsculo dos Deuses é que depois de ter exposto Norma Desmond a inúmeras desilusões ele se apiedou de sua protagonista e conferiu a ela o ''retorno'' com a qual ela tanto sonhara.

Um dos aspectos principais da história é a de que as promessas de Hollywood, de transformar atores, diretores e roteiristas em celebridade é capaz de, a longo prazo corromper inteiramente a alma dessas pessoas. A figura de Norma Desmond é onipresente na indústria do entretenimento  sempre que pensamos em astros e estrelas decadentes, seja na música, no cinema e na TV a sua imagem logo nos vêem a mente. E assim continuará sendo, enquanto houver promessas de transformar pessoas normais em Deuses Norma Desmond surgirá como uma sombra inconveniente, uma lembrança perpétua dos efeitos danosos que esse tipo de procedimento pode causar no coração das pessoas.

Para compreendermos os tempos de glória de Norma Desmond não é necessário muita imaginação ou pesquisa; Hollywood era o paraíso na década de 20 e continua a se-lo nos dias de hoje. E em meio a vários astros e estrelas que mantém sua popularidade ao longo do tempo há aqueles que se destacam em um ou dois filmes e em seguida caem no esquecimento. Desse ponto de vista ela não passa de um efeito colateral inerente ao sistema ou seja em Crepúsculo dos Deuses temos uma belo exemplar da Seleção Natural aplicada aos seres humanos: Norma Desmond não foi capaz de se adaptar as mudanças do ambiente em que vivia por isso caiu no esquecimento agora é muito mais fácil culpar o sistema, o gosto do público ou qualquer outro fator externo do que tomar consciência das próprias limitações Mantem-se em sua torre de marfim onde pode continuar acreditando que é uma estrela, tem seu macaco de estimação, jogar cartas com seus velhos colegas (igualmente esquecidos), assiste a um filme em que contracenou uma vez por semana, tem um mordomo que satisfaz todas as suas vontades e acredita receber cartas de fãs ansiosos por seu retorno as telas. È uma grande injustiça da parte de Joe Gillis dizer que sua vida é vazia.

A situação de Norma Desmond parece ser uma exceção mas não será ela a regra? Será que não existem atualmente astros que vivem em torres de marfim e que, com a colaboração de agentes bajuladores, julgam ser mais do que são na realidade? Assim sendo Crepúsculo dos Deuses também apresenta contornos religiosos e morais pois mostram como a vaidade e a soberba, dois pecados capitais, podem contribuir para a ruína de um ser humano.

Joe Gillis, narrador do filme é outro exemplo tipico de um fracassado, mas pertence a uma outra casta: a dos pretensiosos, iludido pelas promessas de Hollywood abandona seu trabalho, seus amigos, sua vida normal apenas para, em um curto período de tempo na ''terra dos sonhos'', descobrir que não tem tanto talento quanto suponha ter. No encontro com Norma Desmond ele enxerga a oportunidade de entrar no jogo de Hollywood nem que seja pela porta dos fundos. Com o passar do tempo percebe que se tornou o pior tipo de aproveitador: aquele que mesmo envergonhado dos seus atos continua a pratica-los.

E como não nos enternecermos com a figura do descobridor de Norma, seu ex-marido e mordomo Max Von Mayerling? ;Que adora tanto sua senhora que não permite que ela enxergue a realidade. Como criticar severamente alguém que, para garantir a paz da pessoa que mais ama, omite dela certas verdades? Os resultados de sua atitude mostram-se desastrosos mas o que faríamos em seu lugar? A mim me parece que tanto a revelação da verdade quando sua ocultação podem ter resultados terríveis, ele escolheu o que lhe pareceu menos cruel.

Betty Schaefer, interesse amoroso de Joe mostra-se a única personagem bem resolvida na trama e capaz de superar os próprios complexos. Alguns consideram essa personagem de pouca importância na história mas é através dela que Billy Wilder cria uma oposição clara a personalidade perturbada de Norma Desmond. Com a presença de Betty Billy Wilder mostra que seu filme não é uma mera crítica a indústria Hollywoodiana mas principalmente uma crítica as nossas tendências narcisistas  e escapistas que são a gênese dessa indústria.

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