segunda-feira, 15 de julho de 2013

Batman - O Cavleiro das Trevas - Uma analise sociológica e filosofíca da trama


Em Batman - O Cavaleiro das Trevas Christopher Nolan não fez apenas mais um filme de super-herói, mas um estudo sobre três tipos de heróis que aprendemos a admirar em nossa época.

Neste filme Batman mostra-se violento, confuso e contraditório. A semelhança com ''heróis'' comtemporâneos é mera coincidência? Sim e não. O personagem foi criado nos Estados Unidos na década de 30 época em que o país viveu a pior crise econômica e moral de sua história, empresários bem-sucedidos foram a falência a pressão de grupos religiosos e defesas da moral fez com que o governo criasse a Lei Seca, gerando lucros exorbitantes para a máfia, policiais e políticos corruptos.

No cinema, cria-se um novo tipo de gênero: o de gangster. Muitas desses filmes eram baseados em fatos que apareciam nos jornais da época. Por pressão de grupos conservadores que censuravam e fiscalizavam o conteúdo moral  dos filmes os gangsteres dessas história morriam ou se arrependiam. Foi nesse período que Batman apareceu pela primeira vez nas páginas dos quadrinhos, não tinha a menor pena dos bandidos que enfrentava, matava-os!

Na década de 60 os Estados Unidos enfrentaram guerras civis e externas que levaram a população a desconfiar da intenção dos seus próprios governantes e a questionar os valores morais que regiam a nação. No cinema vemos esse conflitos em filmes como Easy Rider e Mash (este de 1970) porém a televisão americana parecia alheia a tudo isso, preocupada apenas em entreter o telespectador com séries de tv  fantasiosas e/ou divertidas que o fizessem se esquecer dos problemas que atravessavam o país. Foi nesse período que o violento personagem criado por Bob Kane foi levado as telas da televisão de maneira irreverente e divertida, para desgosto de seu criador e dos fãs de histórias em quadrinhos.

Na década de 80 as HQS de Frank Miller e Allan Moore levaram o personagem de volta as suas origens sombrias. O Batman de Tim Burton é tão peculiar quanto os outros personagens da cinematografia do diretor mal ele podendo se comparar com outros heróis de ação da época.

Porque tantas diferenças na caracterização de um mesmo personagem de uma época para a outra? Batman Begins de 2005 nos deu a resposta: Bruce Wayne é um homem normal que teve que enfrentar seus medos para poder fazer o que julgava ser o certo. Ao contrário de Superman, que veio de outro planeta e simboliza o homem-ideal, Batman não possui um corpo indestrutível e nem está imune as contradições morais que qualquer pessoa pode ter.

Na década de 30 Batman era um justiceiro assassino, nos anos 60 divertido e ingênuo, nos anos 80 exagerado e sombrio ao mesmo tempo e o Batman de Nolan combate o crime muitas vezes agindo acima da lei que ele supostamente quer defender. Talvez a melhor definição do Batman seja dada por ele mesmo a certa altura do filme: ''Eu sou o que Gothan precisar que eu seja''.

Harvey Dent é o tipico herói norte-americano, diferente de Batman age de acordo com as leis, é firme em suas convicções e as vezes se mostra inseguro e romântico. Harvey Dent é o tipo de herói que Hollywood nos ensinou a amar.

O Coringa teoricamente é o vilão do filme mas poderia ser encarado como herói em outra época da história. Nos séculos 19 e 20 alguns revolucionários socialistas, anarquistas e de grupos de esquerda em geral não hesitavam em usar táticas pouco ortodoxas como a explosão de bombas, roubo e o assassinato de políticos como meios de fazer valer suas idéias (alguns posteriores vieram a receber o prêmio Nobel da Paz).

Depois da queda da União Soviética o mundo ocidental dito civilizado pode desfrutar de uma país que há muito tempo não tinha. As revoluções e táticas de guerrilha pareciam coisas do passado ou relegado a países miseráveis que eram teoricamente incapazes de incomodar as grandes potências ocidentais. Até quem em 2001 o maior país do mundo sofreu o mais trágico ataque terrorista da história. Uma nova onda de paranóia foi iniciado no mundo e o presidente dos Estados Unidos, George W.Bush se apresentou como o herói que eliminaria a ''ameaça terrorista'' para isso violou direitos civis enviando prisioneiros de guerra a Guantánamo onde supostos terroristas eram torturados sem terem direito a qualquer defesa.

O Coringa é o vilão dos nossos tempos pois usa o medo e táticas terrorista para atingir seus objetivos mas ao mesmo tempo nos identificamos com sua descrença e deboche em relação aos governos e a sociedade.
No século 19 o filósofo alemão Friedrich Nietzsche escreveu: ''Quase tudo que chamamos de 'cultura superior' se baseia na espiritualização e no aprofundamento da crueldade. Aquele 'animal selvagem' nem chegou a ser morto, vive, floresce, apenas foi divinizado.'' È nisto que o Coringa acredita e em nenhum momento se desvia do seu ideal. Não é assim que agem os heróis?

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